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13 de março de 2012

Era uma vez...

  Era uma vez...
  Deveria eu, começar assim? Bom...
  Era uma vez, uma jovem garota, em pleno século XI, que vivia numa relação rigorosa em casa com seu pai. Ele insistia em mantê-la longe dos perigos do mundo e dos olhos apaixonados que a cercava por onde passava, pela sua beleza tão irradiante. Além dos ciúmes, ele tinha medo de perdê-la e sofrer como quando perdeu sua esposa tão cedo num assalto na própria casa.
  Acontece que a jovem iria completar dezoito anos dali um mês e sonhava com um grande amor e sua liberdade. Seu nome? Eliza. Muitos a conheciam na pequena cidade, pela vida que vivia. Nunca reclamou ao seu pai, Charlie, por não ter amigos ou não poder sair, pois tinha certeza de que um dia sua tão sonhada liberdade chegaria. Mas não era isso que Charlie planejava.
  Era um dia frio e chuvoso quando Eliza observava as gotas que escorriam no vidro da parta da sacada em seu quarto. Ali sentada, contemplava sua prisão, desejando ser como as gotas, correndo na direção do seu destino, sem freio, sem alguém para lhe dizer o que fazer e não olhar para traz.
  O olhar de Eliza se chocou com o dele de repente e ela se assustou. Não entendia como seu coração disparava e o sangue corria rápido nas veias fazendo o momento ser tão interessante a ponto de não conseguir prestar atenção em mais nada. Naqueles momentos intensos e dispersos em que sua bochecha ficava rosada e o jovem vizinho se virava para observa-la do outro lado da rua, Eliza sem perceber estava deixando que ele roubasse seu coração para sempre.
  Numa noite Charlie perguntou a ela se era feliz ali. Eliza estremeceu, mas assentiu com um sorriso torto.     Ele pareceu satisfeito.
  A jovem terminou o jantar e levou seu prato até a cozinha. Enquanto ensaboava a louça, uma lágrima rolou silenciosamente em sua face: “viverei eu, para sempre aqui?” perguntou-se em sussurros.
  Eliza amava seu pai, e sempre amou. Nunca criticou a forma como ele a criou, mas começava a perceber que já estava crescida o suficiente para se cuidar sem tanta proteção assim.
  No dia seguinte, ela sentia-se mais confiante e animada, seu aniversário estava um dia mais perto. Como ela não tinha outras distrações a não ser a escola, se preocupava em contar os dias para ocasiões especiais em que ela ganhava alguma coisa que realmente a deixava feliz.
  Acordou cedo para a escola com um belo sorriso no rosto, despediu-se de seu pai e foi direto para o ponto onde pegava o ônibus escolar. Ora quem diria, ela não esperava vê-lo por ali tão cedo, mas então ele apareceu. Novamente Eliza sentiu o corpo estremecer e o coração disparar quando ambos os olhares se hipnotizaram. Mas não duraram três segundos e Eliza desviou os olhos e começou a encarar seus pés.     Devagar se recompôs e começou a agir como se nada estivesse acontecendo, mesmo quando ele se pôs a uns cinco passos largos de distancia apoiando o corpo alto, tipo atleta, no tronco da mangueira.
  Ela sentiu os olhos do rapaz a observar, as maças do rosto começaram a esquentar então se virou lentamente para checar, mas ele não estava olhando mais. Ficou um pouco constrangida, mas logo o ônibus chegou e ela partiu.
  Os dias se seguiram da mesma forma, ela corria para o ponto de ônibus e ele já estava lá. Nunca sequer mencionou uma só palavra com a garota, e sempre tentava disfarçar seu interesse por ela. Eliza acordava todos os dias, ansiosa para vê-lo antes de ir para a escola e voltava para casa pensando nos olhos intensos do garoto até encontrá-lo no jardim. No final da tarde, ele a espiava por entre as cortinas da janela e ela fazia o mesmo.
  Devagar os dois jovens apaixonados iam se acostumando com a presença do outro. Ele saía na varanda e ficava horas olhando para a casa da frente, esperando que Eliza finalmente saísse para contemplar tamanha beleza. Durante alguns dias, Eliza encontrou coragem para admirar seu amor de seu quarto sem esconder dele seu sentimento, mas o medo de seu pai descobrir a fez recuar e tentar evitar. Ela sabia que era impossível seu amor vingar, e era melhor cortar pela raiz antes que fosse pior e a fizesse sofrer. O que ela não sabia que já era tarde demais.
  Semanas se passaram, e seu aniversário estava por vir. Ensaiava muitas vezes como diria a seu pai que queria poder ter um pouco mais de liberdade, sair e ter amigos. Finalmente o dia chegou, mas ela se aprofundou em tamanha tristeza quando seu pai furioso se levantou e sibilou: “Nunca repita isso!”. Eliza chorou o resto dia, amaldiçoando os ventos e se perguntando que tipo de vida era essa que ela vivia. Todas suas esperanças haviam acabado, mas uma coisa ainda a fazia feliz, ter os olhos apaixonados de seu amado só para ela.
  Charlie saiu de casa sem dizer nada a Eliza e trancou a porta. Ela estava sozinha e então ouviu barulhos do lado de fora da casa. Correu pela varanda escutando alguém lhe chamar pelo nome. Era ele. Ela olhou em seus olhos e sorriu enquanto ele escalava a sacada.
  - O que está fazendo aqui? – sussurrou, trazendo-o para dentro antes que algum vizinho pudesse ver.
  - Foge comigo – ele disse colocando a mão em seu rosto.
  - O que? – tentou dizer entre os disparos do coração.
  - Foge comigo, Eliza – tornou a dizer sorrindo e ofegante.
  Ela encarou seus olhos sem resposta.
  - Não posso!
  Antes que ela terminasse ele encostou os lábios de leve nos seus e olhou fundo em seus olhos.
  - Vamos, eu tiro você desse lugar! Não consigo parar de pensar em você e sei que você também sente o mesmo por mim. Eu te amo Eliza! Venha comigo - dizia ele esperançoso.
  Diante daquele beijo, ela não podia negar seu eterno amor por aquele jovem que ela nem sequer sabia o nome. O momento foi tão intenso que nenhuma razão teve espaço entre eles.
  - Qual é o seu nome?
  - Ryan
  Era como se ela já o conhecesse, não se sentiu incomodada em nenhum momento com a sua presença.   Ansiosa e revoltada sorriu para ele tendo certeza de que nunca se arrependeria.
  - Você realmente me ama?
  - Sim, sem dúvidas. Não consigo ficar um dia sem te ver. Eu prometo que vou te amar para sempre, meu amor, jamais vou te abandonar. Venha comigo, você não merece essa vida. Quero te tirar daqui.
  Diante da sinceridade do moço, ela não teve escolhas, seu coração mandou e ela obedeceu. Colocou algumas roupas na mochila e saiu pela sacada correndo até os fundos da casa de Ryan.
  - Para onde vamos?
  Ela perguntou assustada com tantas mudanças e chorando por não ter se despedido do pai. Eles já estavam dentro do carro, mas antes de sair dali ele segurou a mão de Eliza e disse:
  - Para onde eu possa ser feliz com você!
  Ela não disse mais nada, apenas apreciou o longo beijo que se sucedeu. Feliz e confusa ela suspirou.
  - Tem certeza? - ele perguntou.
  Ela olhou para a casa que ela deixava para trás, uma lágrima rolou e seu coração se apertou. Voltou seu olhar para Ryan e sorriu dizendo:
  - Absoluta.
  O sentimento forte a inundou novamente e eles partiram sem rumo, buscando a felicidade eterna juntos...
  Fim.

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