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19 de agosto de 2011

Meu orgulho...

Não sei como nem de onde surgiu tal impulso, mas eu simplesmente saltei da cama até ele e segurei em seus braços empurrando-o para trás.
- Você não vai sair daqui! – eu disse antes de beijá-lo.
Eu comecei a pensar que era louca. Era mais do que certo ele ir e depois conversar melhor, mas eu não podia deixar nenhuma brecha que pudesse fazê-lo desistir. Eu podia estar me enviando para morte, mas minha sentença já estava assinada desde o momento em que me apaixonei.
- Não faz isso Emily! – disse num sussurro enquanto eu beijava seu rosto e me escondia em seu pescoço.
O medo de que ele fosse embora era tanto que meus braços se apertavam cada vez mais em sua nuca.
- Não faz isso você, Tyler. Não me deixe, eu fiz aquilo por impulso.
- o impulso quase te matou.
- É eu sei... Mas estou aqui. Desculpe-me. – choraminguei.
- Não é você quem tem que pedir desculpas, Emily.- respondeu colocando a mão sobre minha cabeça. – Eu quase não resisti a todo aquele sangue se derramando... Não sei como suportei. Somos dois bobos impulsivos, mas se quisermos ficar juntos, teremos que ser mais cautelosos...
- Sim. - assenti me afastando para olhá-lo.
- Temos que aprender a conviver com isso. Eu não queria ter que arriscar sua vida novamente. Eu te amo o suficiente para me sacrificar e mais suficiente ainda para não ter forças de te deixar... Isso existe? – disse surpreso e amedrontado.
Baixei o olhar e ele beijou minha testa.
- Existe...
Ele sorriu.
- Que loucura... – sussurrei.
- Não seria melhor se...
- Não, fique. Por favor, eu não quero ficar sozinha! – envolvi meus braços entre os seus e deitei minha cabeça em seu ombro.
Não era o apropriado. Tyler, segundos atrás, havia me atacado com se eu fosse um daqueles animais que ele caça na floresta. Senti-me como se fosse algo fútil e pequeno diante do animal que ele se transformava. Eu estava com medo, tremia de medo, sim! Mas o que eu podia fazer se meu medo de passar a noite sozinha depois de tudo isso era muito maior. Mesmo que eu tivesse que dormir na companhia do meu predador.
“Meu predador”
- Você quer dormir com um assassino? – a voz com tom de ironia, atingiu devagar ecoando em minha mente.
Sorri e deboche de mim mesma, e da situação em que nos encontrávamos.
- Meu predador – sussurrei ainda imersa.
Tyler ficou em silêncio, pareceu esperar minha resposta ou alguma reação diferente. Mas eu permaneci ali, com os braços em seu pescoço, na meia ponta dos pés olhando para seu rosto sem nada ver.
- Sim. – concordei um minuto depois.
Pensei que ele iria se afastar, arregalar os olhos ou protestar como sempre fazia para me repreender de certa forma. Mas ele ficou ali, com a expressão mais suave, quase suportando a idéia de estarmos sendo realistas por um momento.
Enrolei os dedos em seu cabelo e estremeci com mais um toque em sua pele gélida.
- Sim! – sorriu com o olhar duro repetindo meu tom de voz, parecendo idiota e sem noção vindo dele.
Baixei o olhar rapidamente e mordi os lábios.
Deixei meu coração dizer o que realmente queria dizer, sem ter que frear alguns sentimentos que ameaçavam escapar por minha boca ou virar um animal feroz dentro de mim. Ignorei o medo, o amor, o ódio, o frio, o lamentável incidente e deixei que fluíssem os pensamentos sóbrios.
Eu precisava de um descanso, precisava deixar tudo para o lado, para entender o que realmente significava viver para mim, agora. Era bem mais fácil, do que guardar tudo para depois...
- Tem certeza de que prefere se arriscar tanto só por amor? Só por simplesmente...
- Meu amor é egoísta. Não posso respirar sem você...
Um sussurro. Um suspiro. Um beijo.
Lembrei-me do soneto de John Keats que trabalhei na aula de literatura, no último semestre do ano passado. Simplesmente me apaixonei pelas poesias e o que só me restou foi comprar um ou dois livros livraria da cidade, pois era muito difícil achar em alguma biblioteca.
Ele permaneceu com os olhos fechados, solene com a testa recostada a minha. Seu respirar era meu ávido ar vital, permaneci-o observando. Ele me embalou como num som de uma suave música que pareceu soar em meus ouvidos.
- Meu predador – sussurrei outra vez, com um sorriso diabólico.
Seus olhos se abriram, o azul fresco de sua íris atingiu os meus como uma lâmpada bem acesa.

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